Rússia questiona escolha do Vaticano para negociação sobre Ucrânia


O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, lançou dúvidas nesta sexta-feira (23) sobre o Vaticano como local em potencial para as negociações de paz entre a Rússia e a Ucrânia. Ele disse que a própria Santa Sé consideraria desconfortável receber duas nações de maioria cristã ortodoxa.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, afirmou na terça-feira (20) que o papa Leão XIV havia confirmado a disposição de sediar as conversações durante uma ligação telefônica com ela. A assessoria de imprensa do Vaticano não quis fazer comentários.
O papa Leão, primeiro pontífice nascido nos Estados Unidos, disse logo após sua eleição neste mês que o Vaticano poderia atuar como mediador em conflitos globais, sem mencionar especificamente Rússia e Ucrânia.
Lavrov, falando hoje na Academia Diplomática em Moscou, minimizou a ideia do Vaticano como próximo local, e o Kremlin disse que ainda não havia nenhum acordo sobre onde uma nova rodada de negociações seria realizada.
"Muitas pessoas estão fantasiando sobre quando e onde ela [a reunião] será realizada. Não temos nenhuma ideia neste momento", declarou Lavrov.
"Mas imagine o Vaticano como um local para as negociações. Seria um pouco deselegante para os países ortodoxos usarem uma plataforma católica para discutir questões sobre como remover as causas básicas ([o conflito]."
"Acho que não seria muito confortável para o próprio Vaticano receber delegações de dois países ortodoxos nessas circunstâncias", acrescentou Lavrov.
Os negociadores ucranianos e russos realizaram suas primeiras conversas diretas em mais de três anos neste mês em Istambul.
Discriminação
Lavrov também disse que Moscou não permitiria que as pessoas que falam a língua russa na Ucrânia permanecessem sob o domínio do que ele chamou de "junta", liderada pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
Seria um "crime" para a Rússia permitir que isso acontecesse, afirmou, acrescentando que a maneira mais simples de resolver o conflito seria a comunidade internacional exigir que a Ucrânia cancele o que ele disse serem leis que discriminam as pessoas que falam o idioma russo.
Kiev nega qualquer tipo de discriminação.
Lavrov reiterou uma ideia russa anterior, de que seria bom se fossem realizadas eleições presidenciais na Ucrânia para que Moscou pudesse um eventual acordo de paz com alguém considerado legítimo.
Zelensky rejeita a ideia apoiada pela Rússia de que ele não é legítimo. As eleições não foram realizadas quando seu mandato de cinco anos tecnicamente expirou em maio de 2024 porque a Ucrânia permaneceu -- e permanece -- sob lei marcial, o que suspende o ciclo eleitoral normal.

