Opas alerta para surtos recorrentes da covid-19 nos próximos anos

A região das Américas registra quase a metade de todos os casos de contaminação por covid-19 no mundo. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), até ontem (23) haviam sido registrados mais de 4,5 milhões de casos e 226 mil mortes na região, e seguem aumentando. Para Carissa Etienne, diretora do organismo, viveremos os próximos dois anos alternando surtos recorrentes e períodos de transmissão controlada da covid-19.
Etienne lembrou que esta semana o Brasil superou a barreira de um milhão de infectados, ultraando, assim como os Estados Unidos, os seis dígitos. “Os Estados Unidos representam 51% de todos os casos e 53% de todas as mortes na região das Américas, e o Brasil representa 25% de todos os casos e 23% de todas as mortes. Combinados, esses dois países representam 76% de todos os casos e de todas as mortes na região”, disse.
Nas Américas, nas últimas 24 horas, foram notificados 68.785 novos casos de contaminação e 2.274 óbitos, o que representa um aumento relativo de 2% nos casos e um aumento relativo de 1% nas mortes, em comparação ao dia anterior.
Números preocupantes
Etienne lembrou que, no dia 23 de maio, a região registrava 690 mil casos de contaminação. Em 23 de junho, exatamente um mês depois, o número já extrapolava os 2 milhões de infectados. De acordo com a diretora, apesar dos números muito preocupantes, a região conseguiu impedir uma tragédia maior com medidas preventivas de fortalecimento dos sistemas de saúde pública.
"Manter essas medidas não foi fácil, especialmente devido a sua incidência socioeconômica. E, agora, os governos estão sendo pressionados a flexibilizar restrições por motivos econômicos e políticos, apesar do aumento de contágios", disse Etienne.
Para Etienne, cada país deverá coordenar a sua resposta à covid-19 com uma base de dados cada vez mais detalhada, e os governos deverão tomar decisões levando em conta de maneira simultânea a saúde e os indicadores econômicos e sociais.
A diretora da OPAS a ação permitirá que os funcionários da saúde entendam onde está aumentando o contágio e quais grupos têm mais riscos.
"As medidas de proteção social deverão ser examinadas sistematicamente para reduzir ao máximo a incidência do vírus em nossas sociedades", disse Etienne, reforçando a dificuldade que muitos grupos têm em seguir as recomendações de isolamento. "As famílias informais, que vivem em casas superlotadas, os indígenas, as populações afrodescendentes que vivem em condições precárias, sem o à água corrente nem sabão. É por isso que é tão importante ter políticas e programas que combatam os problemas das populações vulneráveis. A pandemia mostrou como os mais vulneráveis são afetados de maneira desproporcional por essa doença".
Testes
O diretor do Departamento de Doenças Transmissíveis da Opas, Marcos Espinal, disse que o Brasil conseguiu aumentar o número de testes PCR para diagnóstico da covid-19 nas últimas semanas. "Mas o Brasil ainda não chega a 10 mil testes para cada milhão de habitantes. Então é necessário que aumente. O Brasil é muito vasto e com diferentes densidades populacionais", disse o diretor.
Ainda segundo Espinal, São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará são os que realizam o maior número de testes hoje. "São Paulo já fez mais de 350 mil. No entanto, quando vemos a quantidade de testes em relação à densidade populacional, São Paulo e Rio estão muito abaixo de outros, como Roraima, um estado menos povoado, mas que tem uma ampla capacidade de testagem. Ou seja, é importante não generalizar, mas é necessário aumentar [a testagem] porque é o que nos dá a magnitude de como andam os estados. E, assim, os tomadores de decisão possam decidir o que é melhor para a população brasileira".

